Elas por Eles


A culpa é da mulé
Uma ou outra coisinha que sei sobre elas


      A culpa é da “mulé”. O Gênese não me deixa mentir. Está tudinho lá no livro das origens, para quem quiser conferir a veracidade do que escrevo e tiver paciência para ler aquelas letrinhas miudinhas. Isso mesmo. A culpa é da “mulé”. Eva, a “mulé” original, mãe de todas as “mulé” originais, convenceu Adão, “homi” original, pai de todos os “homi” originais, a comer do fruto proibido, o que despertou a ira do Todo Poderoso.
    O Todo Poderoso, que ostentava um barbão de dar complexo de inferioridade a qualquer aiatolá, como todos sabem, ficou P da vida com a desobediência original, e como castigo condenou ao “homi” trabalhar para prover o próprio sustento, dos seus herdeiros, que de tabela também contraíram a mesma agrura, e, inclusive, o das “mulé”. Se não fosse por isso, ainda estaríamos desfrutando de todas as delícias do resort Jardim do Éden, sem pagar nada por isso.
    Por nós, continuaríamos numa estadia eterna no Paraíso, onde todos andavam peladões, nus em pêlo, do jeito que vieram ao mundo e sem um pingo de vergonha – nada de ocultar as partes pudendas. Pelo contrário. E, o melhor: ninguém era de ninguém – só não valia dançar “homi” com “homi” nem “mulé” com “mulé”. Nada de monogamia ou discussão de relação. Isso só para se ter uma ideia das delícias que deixamos de desfrutar.
    Se hoje vivemos numa selva de pedras, onde cada qual somente quer saber de si e, não raro, querem nos obrigar a matar para não morrer, a culpa é de quem? Se temos chefes, se votamos em políticos que irão nos assaltar sem constrangimento algum, se usamos gravata, se pagamos impostos indevidos, se nos entupimos de fast-food, se temos engarrafamentos, consulta com analistas, dentistas e exame de próstata, a culpa é de quem? Das “mulé”, oras. Ah, quando eu as pegar!



     As mulé são sedutoras natas. Femme Fatale de nascença. Todas elas. Umas mais outras menos, mas todas são capazes de levar o “homi” dos céus à danação ou vice-versa. Chegam ao mundo sabendo tudo que precisam para fisgar o nosso coração – embora comecem a usar os seus encantos um pouco mais tarde. Pobre de nós, “homis”, que não temos armas (nem eu as quero ter) para nos vermos livres de seus feitiços.
      E as “mulé” são más. Um dia nos proporcionam e noutro nos privam. Querem nos pisar com salto agulha. Muitas delas, à primeira vista, parecem inofensivas, tímidas. Falam de forma quase imperceptível, obrigando-nos a chegar mais perto para ouvir as palavras que seus lábios, quase imóveis, mal deixam escapar, como um sopro, uma melodia cantarolada. Mas é tudo um truque, precisamente calculado para nos engabelar, uma farsa. E, aí, quando nos damos conta, estamos completamente perdidos. Ficamos com cara de bobo, passamos noites insones, mandamos flores, cantamos no chuveiro, declaramos poemas, fazemos promessas, ficamos emocionados com beijo em novela das oito.
     E quando nos fitam no fundo dos olhos, por um milésimo de segundo que seja? E quando os cabelos longos e sedosos sejam eles pretos, loiros, ruivos, castanhos e de toda sorte de matizes, ondulam e balançam ao ritmo de um andar sinuoso? E quando rirem gostoso, mostrando os dentes brancos e os lábios vermelhos? E quando cruzam e descruzam as pernas com habilidade criminosa? Algo penetra o espaço e se fixa em nós, deixando-nos paralisado, o coração igualzinho à bateria de escola de samba, o corpo em fogo, a língua seca. E elas se apoderam de nós em um instante.
    Mas acontece que: as “mulé” se dizem incompreendidas, quando na verdade são totalmente incompreensivas conosco. Esquecem que somos pobres coitados, algumas vezes nobres, como no meu caso, à mercê de seus encantos – não de uma, mas de todas, oras. Não compreendem que nada podemos fazer (nem eu quero) contra o magnetismo que possuem. Se podemos nos entregar de mão e corpo beijado por um rostinho de anjo; no segundo seguinte sermos cativos de uma coleção de curvas pescoço abaixo e, no outro, ainda, por um sorriso de covinhas, a culpa não é nossa. É delas. A culpa é das “mulé”.
    Eis a chave para nos compreender: nós, “homi”, queremos apenas adentrar ao âmago da alma feminina, como se pudéssemos nos imiscuir pelo portal do Paraíso.

***

         As mulé vão negar – se ainda não pararam de ler. Espernear, inclusive. Vão dizer que estou inventando, que sou um tresloucado, que tudo é fruto da minha persona desavergonhada e da minha cabeça desajuizada e que não sou alguém que mereça crédito. Mas eu e as “mulé” sabemos intimamente que o que digo (ou melhor, escrevo) é a mais pura verdade. As “mulé” fazem. Todas as “mulé fazem”. Fazem guerra de travesseiro de pluma de ganso vestindo apenas calcinhas, baby-doll ou até mesmo desnudas, conforme categoria. Se atracam em camas forradas de lótus em manhãzinhas ensolaradas e em noites insones. Delícia! É a coisa mais linda de se ver. Cena para ser apreciada senão ao vivo em CinemaScope e em ssslllloooowwwwmmmmooootttttttttttiiiioooooonnnnsssss.
      “Muléres” PodeRosas, executivas, ricas, pobres, autônomas, diaristas, profissionais, modelos, debutantes, trintonas e quarentonas são (nos dois últimos exemplos: foram), adeptas do esporte, que exige vigor físico, técnica apurada e possui elevado senso estético. Sabe aquela inocente desculpa de ir dormir na casa da amiga? É a senha. É o código. Há uma legião de guerreiras do travesseiro. Campeonatos disputadíssimos são realizados enquanto pais (esses sim, inocentes) saem de viagem nos finais de semana.
       Mas, a prática não é feita de qualquer modo. Há uma série de regras rígidas. Não vale puxar os cabelos da oponente, beliscões, arranhões, mordidas, objetos cortantes ou perfurantes camuflados no travesseiro e, principalmente, golpes nos faróis, entre outras proibições. Risadinhas e gritinhos histéricos são permitidos para animar a festa, quer dizer, o embate, que somente é permitido entre amigas do peito, para evitar que a “batalha” descambe para a violência dos esportes essencialmente de “homi”. Imagine se elas pudessem ter a rival à sua frente para um combate mortífero de travesseiros. Não ia dar boa coisa.
      Cada round dura cinco minutos e cada luta é composta por três deles. Quem for derrubada da cama está desclassificada. As distinções das categorias se estabelecem por conta da vestimenta, como já mencionei, da idade, do peso das adversárias, do tamanho da casa e do número de mulé sobre a mesma - embates individuais, em dupla ou em trio. É claro que elas aproveitam o intervalo da competição para falarem sobre as tendências da moda, as últimas dicas de maquiagem e, invariavelmente, sobre nós, “homi”.
       Como eu sei de tudo isso? Falo com conhecimento da “Coisa”. Já estive em algumas das camas onde as mais ferrenhas guerras de travesseiro foram e são realizadas e nas oportunidades que tive, quando solicitado, participei como elemento moderador, com um sorriso de orelha a orelha. Tudo em nome do desporto.

****

        Eis a Revelação, que é tratada como tabu, embora todo mundo saiba e muitos ainda finjam não saber (ou não sabem mesmo): as mulé gostam tanto da “Coisa” quanto nós “homi” gostamos da “Coisa”. Duvida? Por que então elas topam participar da “Coisa” com ardor e indisfarçável prazer? Por não terem algo melhor a fazer? Por que o cabeleireiro desmarcou o balayage? Por que a Bolsa de Nova York está em baixa? Por que são coagidas (nem no tempo das cavernas)? Umas curtem até umas boas palmadinhas para incrementar a “Coisa".
       Têm uns tolos que se escandalizam em saber que as “mulé” (principalmente, quando é a sua “mulé”) gostam para valer da “Coisa” e por isso afirmam que elas não prestam. Há, também, umas carolas ressentidas que não fazem por menos. Isso tudo por quê? Porque o prazer feminino ainda é visto como uma aberração, apesar de estarmos no fim do primeiro ano da segunda década do século XXI. Ver se pode? Há lugares, inclusive, em que chegam ao absurdo de mutilar as mulé para que não sintam prazer com a “Coisa”.
      Dias desses, a revista feminina Cosmopolitan publicou uma pesquisa, feita com 2 mil “mulé” americanas (reza a lenda), afirmando que elas preferem o Facebook à “Coisa”. E daí? Estamos no Brasil, oras. E, alem disso, sempre haverá holandesas, colombianas, espanholas, italianas e “mulé” de toda sorte de nações e etnias para provar o que eu digo.
      Cleópatra, por exemplo, foi uma compulsiva fazedora da Coisa. A rainha do Egito praticou a “Coisa” a torto e a direito, com mais de mil amantes, apesar de ser uma mulher desprovida de encantados, para não dizer um tremendo tribufu, ao contrário da imagem imortalizada por Liz Taylor no cinema. Ah, aqueles olhos cor de violeta! Se nem todas têm o apetite e a disposição de Cleópatra, que poderia muito bem se chamar Créuopatra, com o perdão do trocadilho, muitas não ficam por menos.
      E elas fazem muito bem em gostar da “Coisa”, com ardor e indisfarçável prazer, e é bom que seja assim, ainda mais quando há uma “Coisa” a mais do que a simples “Coisa” no meio da “Coisa”, embora somente a “Coisa” já seja boa por si mesmo. Se nós homi podem porque as mulé não podem? Viva a “Coisa”!

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         Não é de hoje que se diz que as “mulé” falam mais do que os “homi”. O Google tem um zilhão de páginas sobre o assunto. Apesar disso, o blábláblá todo pode não passar de mais um mito, como os do tipo: os “homi” fazem isso e a “mulé” aquilo. Por que eu não escrevi sexo e amor?
        Pesquisas afirmam que as “mulé” falam duas vezes mais do que os “homi”. Por sua vez, as “mulé” se defendem falando, não poderia ser de outro modo (?), que precisam repetir duas vezes tudo que falam para podermos entender. Oh, quanta injustiça! Deve ser porque não se contentam apenas em falar uma única vez. Falam, repetem, falam de novo e novamente e ainda querem ter razão.
      Apesar disso, a favor delas ou contra nós, outros estudos informam que a cota diária de palavras é praticamente a mesma. Na moral, não me importo nem um pouco se não há consenso sobre a (o) intensa (o) falação ou falatório, como preferirem, meninas, das “mulé”. Mas sabe de uma coisa, às vezes, tenho certeza de que se calassem um momento poderia lhes dizer quanto as amo.

Post-scriptum (1) – Sendo eu o primeiro homi na vida das mulé PodeRosas, não abro mão de agradecer a oportunidade e fazer a minha melhor cara de Humphrey Bogart caboclo, expelir três baforadas Freudianas e, com o charuto em riste, cafajestamente perguntar: Foi bom para vocês?

Post-scriptum (2) – Perdoe-me se o texto ficou grande de mais, acabei me empolgando com a coisa. É que nós, homi, temos fixação pelo tamanho das coisas. Afinal das contas, tamanho é documento. É ou não é?

 Por Davidson Davis




A mulher no poder: ascensão sem queda (do salto)


       Nesses poucos milhares de anos que nossa raça habita conscientemente este planetinha azul que chamamos de Terra, podemos perceber como diversas áreas do conhecimento humano evoluem de modo diferente, mesmo que algumas delas estejam até intimamente interligadas. No curso de um século vimos surgir o avião e a viagem à Lua, mas ainda existem reis e papas mesmo passadas várias centenas de anos desde a sua 'criação'. Nota-se aí que a tecnologia evolui de modo muito mais rápido que nossa organização social, por exemplo. Por que isso se dá desta maneira é algo muito amplo, mas um ponto essencial diz respeito à nossa falta de atenção em relação aos costumes que temos.
       Fazemos muitas coisas e agimos de certo modo simplesmente por que nos disseram que era desta ou daquela maneira, e não paramos para questionar. Um belo exemplo disso é a relação homem/mulher em algumas áreas que evoluíram de um certo contexto em determinada época e que, atualmente, talvez não se aplique mais.
    Tomemos como exemplo o surgimento da família como uma das primeiras formas de organização social. Comparado aos outros animais, o ser humano demora muito mais para se desenvolver e atingir sua maturidade enquanto adulto, daí a necessidade de um núcleo protetor da prole, donde talvez se desenvolva o instinto materno e paterno da preservação dos filhotes e, consequentemente, a criação da família. Em tempos remotos, obviamente, existia uma distinção clara entre os papéis de homens e mulheres numa família, já que o modo de vida era extremamente diferente do atual e, claramente, certas tarefas eram melhor executadas por gêneros diferentes.
    Conforme o tempo passa e evoluímos em diferentes aspectos, não paramos para nos perguntar se as coisas devem continuar como sempre foram, seguimos por inércia. Contudo, se isso ocorre por muito tempo, esquecemos quais foram os principais fatores determinantes para que as coisas estejam como estão e sejam como são.
    Ultimamente temos percebido que algumas funções que eram, até então, exercidas somente por homens (por razões históricas e biológicas) já não são exclusivas de um sexo. Ou seja, como disse no início, diferentes aspectos da sociedade evoluem de forma distinta, mas não independentemente. É hora de notar que nosso estágio evolucionário permite cada vez mais uma equiparidade de gêneros. Não se perguntar por que as coisas são do modo que são e seguir com um conceito pré-fabricado não é preconceito, é burrice.

Por Eslley Scatena 

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